A tensa batalha de carcereiro para se salvar de ataque de preso armado com faca em cadeia paulista. Assista o Video

 

O carcereiro Mauro (nome fictício*), de 50 anos, é responsável por trancar 46 presos na Cadeia Pública de Lutécia, no interior de São Paulo. Ele faz o trabalho desarmado, e quase sempre sozinho, há 21 anos. Mas no fim da tarde do último dia 2, feriado de Finados, foi surpreendido e agredido por um detento. Durante cerca de cinco minutos de luta intensa, pensou várias vezes que fosse morrer.

O preso aproveitou o momento em que Mauro trancaria sua cela para sacar uma faca artesanal escondida na calça e atacá-lo. A BBC Brasil teve acesso às imagens da batalha, registrada pelas câmeras de segurança.

Durante a luta, os dois se agarram e rolam no chão. Armado, o detento dá facadas e dispara socos e chutes, enquanto o carcereiro apenas tenta se defender. Mesmo em desvantagem e após ser imobilizado, ele consegue se levantar e agarrar o preso, mas leva uma mordida e perde um pedaço do polegar.

Quatro internos que estavam na cela já aberta pelo carcereiro apenas assistem à cena. Mauro grita desesperado por socorro diversas vezes, mas ninguém ouve.

“Meu parceiro estava fazendo trabalhos administrativos no computador, porque estávamos sozinhos e ele precisava fazer a documentação de todos os presos. Não sei como saí vivo. Digo para meus amigos que renasci no Dia de Finados”, conta ele em entrevista à BBC Brasil.

As três facadas mais profundas acertaram seu antebraço, a região da clavícula e o peito. “A dor era muita. Ele deu um chute na minha costela, e quase apaguei. Eu não tinha o que fazer e fiquei me defendendo, enquanto esperava o melhor momento para contra-atacar”, conta Mauro.

E, depois de dois minutos de luta, esse momento chegou.

“Ele me deu várias estocadas durante a briga, mas em uma delas a lâmina da faca quebrou no osso da minha costela. Se tivesse furado, acertaria meu coração. Mas, naquela hora, consegui abaixar e pegar o cadeado que estava no chão e usá-lo como um soco inglês”, relata o carcereiro.

O funcionário da cadeia usou o objeto para dar dois socos no rosto preso, que caiu atordoado. O tempo de recuperação do detento foi o necessário para o carcereiro fugir e fechar o portão que dá acesso às celas. As imagens não mostram, mas enquanto ele tranca a passagem, o detento ainda dá chutes e socos pelos vãos do portão para tentar impedi-lo. O carcereiro revida, e finalmente a luta chegou ao fim.

Após ter seu plano de fuga frustrado, o detento volta para a frente de sua cela e pega sua faca artesanal. Ele usa a arma para fazer um outro preso como refém. O homem só é libertado após a chegada da Polícia Militar.

Depois de prestar depoimento à Polícia Civil, o responsável pela confusão foi encaminhado para outra unidade da região.

O detento era único cuja presença foi permitida do lado de fora da cela no feriado porque havia sido escolhido para ser o “faxina” da cadeia. Esses presos têm a função de fazer trabalhos como varrer os corredores, distribuir café e colocar as roupas para secar. No dia em que ocorreu o ataque, nenhum outro preso foi liberado para o banho de sol, e apenas o “faxina” seria colocado de volta na cela, pouco antes das 18h.

O saldo para o carcereiro foi de uma costela trincada, parte do dedo arrancado, três facadas e o trauma de não querer entrar na área das celas sozinho novamente. Mesmo com tantos ferimentos, o funcionário ficou apenas quatro dias longe do trabalho.

Ele disse à reportagem que o afastamento poderia prejudicar uma possível promoção na carreira. Ele pretende se aposentar em, no máximo, quatro anos.