Brasileira presa na Venezuela usa WhatsApp para pedir socorro à mãe

Ela, o marido e um amigo foram presos por compra ilegal de gasolina.
Consulado diz que brasileiros recebem assistência; prisão ocorreu dia 8.
Ana Cassia da Silva Oliveira, de 18 anos, usou WhatsApp para pedir socorro à mãe, que mora em Roraima (Foto: Emily Costa/G1)Ana Cassia da Silva Oliveira, de 18 anos, usou WhatsApp para pedir socorro à mãe, que mora em Roraima .

A brasileira Ana Cássia da Silva Oliveira, de 18 anos, presa na Venezuela desde o dia 8 de setembro, usa o aplicativo de mensagens WhatsApp para pedir socorro à mãe, que mora em Boa Vista. A jovem foi presa com o marido Kassio da Silva Almeida, de 25 anos, e um amigo deles, Tassio da Silva Correia, de 22. O trio foi flagrado comprando gasolina ilegal em uma casa em Santa Elena de Uairén, o que é considerado crime ambiental no país.

Nas mensagens recebidas pela mãe dela, Marinês Luciana, a jovem diz que teme morrer e pede ajuda: “Eu to na frente da cadeia ja. Ai mãe eu vou morrer (sic)”, diz em mensagens enviadas a partir do celular de um guarda venezuelano. Ao ser detida, a brasileira estava com a filha, uma bebê de quatro meses.

“Quando a minha filha foi presa, ela ligou para que eu fosse buscar a neném. Então, eu fui para Santa Elena, visitei minha filha em uma cadeia da cidade e consegui trazer a minha neta para Boa Vista, porque ela seria levada para um abrigo. Agora, a bebê está com a avó paterna”, contou Marinês, acrescentando que no dia 15 de setembro Ana, Kassio e Tassio foram mandados para presídios de Ciudad Bolívar.

Presos (Foto: Arquivo pessoal/Marines Luciana)T
assio da Silva Correia, Ana Cassia da Silva Oliveira
e Kassio da Silva Almeida estão em um presídio no
sul da cidade de Bolívar, segundo a mãe da jovem
(Foto: Arquivo pessoal/Marinês Luciana)

“Ana contou que antes de irem para o presídio, eles foram atendidos por um juiz, que fixou o prazo de 45 dias para que sejam ouvidos em audiência”, contou Marinês.

Em outras mensagens enviadas pelo WhatsApp à familia, Ana Cassia diz à mãe que a ama e pede que os familiares contatem advogados e consigam a liberação dela, do marido e do amigo deles.

“Agora, contratamos uma nova advogada e estamos enviando dinheiro para ajudá-los. Eu mesma já mandei R$ 5 mil para Ana, porque eles têm que comprar tudo no presídio, desde água, comida, o ventilador da cela e pagar pelas mensagens que têm me mandado dos celulares de outras detentas”, afirmou.

A avó de Ana Cássia também disse  que desde a prisão dos jovens “diversas autoridades cobraram propina para libertá-los”. “Um advogado dizia para a gente que cuidava do caso, mas ele não fez nada além de ficar dizendo que queria R$ 15 mil para tirá-los de lá”, disse Elena Carvalho, que denunciou a prisão da neta a uma rádio local.

A mulher diz ainda que o casal tinha ido a Venezuela para comprar leite, fraldas e sabão. “Depois de fazerem as compras, eles foram abastecer em uma casa, porque estavam com pressa para voltar. Foi nessa hora que foram abordados pela guarda venezuelana e presos em seguida”, disse.

Vice-cônsul diz acompanhar caso
Por telefone, o vice-cônsul de Santa Elena de Uairén, Ubirajara Bastos, confirmou que os três jovens foram presos na cidade vizinha ao município roraimense de Pacaraima por comprarem combustível em local não autorizado.

“Essa prática é considerada crime ambiental no país”, reiterou, acrescentando que Ana Cassia, Kassio e Tassio “recebem total assistência das autoridades brasileiras no país”. “Quando eles foram presos, um advogado do consulado prestou toda a assistência”, garantiu.

O vice-cônsul disse ainda que, como os brasileiros foram flagrados cometendo um crime, “as autoridades brasileiras não podem contestar as venezuelanas”. “Cabe ao judiciário da Venezuela julgar o caso. Então, nós não podemos nem opinar quanto a isso. O nosso papel é oferecer todo o apoio”, declarou.

Ubirajara Bastos comentou ainda que é comum brasileiros irem a Santa Elena de Uairén para abastecer por causa do baixo preço do combustível no país. Por causa disso, dois postos da cidade são autorizados a vender para brasileiros.

“Nesses postos, as filas são muito grandes e por isso algumas pessoas decidem se arriscar abastecendo os veículos em casas sem autorização”, afirmou.

O preço médio do litro da gasolina em Roraima é de R$ 3,55 e na Venezuela custa 60 bolívares, o equivalente a R$ 0,40.

A reportagem entrou em contato com o Itamaraty, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.

Governo aciona Secretaria
Em nota, a Secretaria de Comunicação Social do Governo do Estado de Roraima informou que a Secretaria Estadual de Assuntos Internacionais (Seai) acompanha o caso junto às autoridades venezuelanas, “para garantir que os brasileiros que foram presos no país vizinho tenham tratamento adequado e respeitoso, até que o caso seja encerrado”.