Gerir canaviais com tecnologias de ponta ganha tração diante das mudanças climáticas

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Calor de deserto, chuvas e falta delas e El Niño até abril são desafios agrícolas para a safra 2025/26

Por: Delcy Mac Cruz

Drones, softwares de última geração e sistemas de gestão de ponta são apenas alguns exemplos de tecnologias disponíveis para ajudar na gestão dos canaviais.

Na verdade, muitas das companhias sucroenergéticas já empregam esses e outros exemplos tecnológicos no campo.

E investir em ferramentas de gestão se tornou ainda mais vital para a safra 2024/24 da região Centro-Sul, que terá início oficial em 1º de abril, justamente quando o fenômeno climático El Niño enfim tiver ido embora.

Mas quais os impactos que El Niño deixará nos canaviais? E quais os impactos decorrentes das mudanças climáticas, que, pelo visto, chegaram para ficar? E como fazer com o preparo profissional dos colaboradores para atuar com as novas tecnologias disponíveis?

É diante de perguntas como essa que gestores das unidades produtoras canavieiras do Centro-Sul entram na fase final de planejamento da próxima safra.

5 estados concentram 87% da moagem

É certo que as companhias que já investem em tecnologias de ponta tendem a ter bem menos preocupações com os canaviais. Entretanto, há um grande número de unidades produtoras que têm tecnologias de ponta no radar, mas ou falta conectividade para ‘rodar’ as ferramentas, ou falta preparo profissional da equipe ou, também, faltam recursos financeiros para contratar fornecedores e prestadores de serviços.

No entanto, todos do ecossistema sucroenergético sabem que é preciso gerir com toda tecnologia possível os hectares com as 528,87 milhões de toneladas de cana processadas na safra 2022-23 por cinco dos oito estados do Centro-Sul (São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul).

Afinal de contas, a moagem desses estados representa 87,4% das 607,4 milhões de toneladas de cana processadas pelo país na safra 22-23, conforme levantamento da entidade do setor Unica.

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É preciso destacar que, fora as companhias controladoras de 361 unidades produtoras no Centro-Sul, há também os fornecedores de cana, que representam 30% da cana processada.

Muitos deles trabalham como arrendatários e, assim, a gestão dos canaviais cabe às companhias. Mas muitos também administram suas terras por conta própria.

Diante disso, companhias empreendem ações junto a seus fornecedores.

É o caso da Raízen, joint-venture entre Cosan e Shell, que desenvolve o programa Cultivar.

Criado em 2015, ele reúne um grupo de 320 fornecedores, o que representa 8% do volume de cana adquirido pela companhia (leia mais aqui).

Por sua vez, a Raízen empreende a Jornada Cultivar, que oferece cerca de 30 soluções aos produtores, baseadas em produtividade, governança e conhecimento compartilhado (saiba mais aqui).

EXEMPLOS DE INVESTIMENTOS NO CAMPO

Em linha com as mudanças climáticas, que também afetam os canaviais, companhias sucroenergéticas empreendem programas de inovação. Listamos a seguir alguns exemplos.

Usina Lins: programa de inovação

Com unidade produtora em Lins, no interior paulista, a Usina Lins investe no InovaUL, programa de ideias da área de inovação que, “mais do que fomentar a discussão de ideias, tem como objetivo cultivar uma mentalidade disruptiva no agronegócio.”

Exemplos de projetos do programa: pivô de irrigação, lançado em 2023, criado com o propósito de solucionar a escassez de água durante os períodos de estiagem sem onerar consideravelmente os custos. Segundo a empresa, o projeto prevê um aumento de 40 a 505 na produção anual de cana, além de aumentar a longevidade do canavial, dobrando a expectativa de corte de 5 para 10 anos.

Outro exemplo é o ConectaUL, projeto de conectividade que, além de “romper as barreiras da digitalização no campo”, também beneficia a comunidade local fornecendo cobertura 4G a aproximadamente 100 mil pessoas e mais 2,3 mil colaboradores diretos.

Tereos amplia cobertura 4G

A Tereos, produtora de açúcar, etanol e bioenergia com sete unidades no interior paulista, firmou em novembro acordo com a Embratel, a Claro e a Sol Internet of People para ampliar a cobertura 4G em suas áreas de canavial.

Por meio da solução Campo Conectado, diversas antenas serão instaladas em áreas produtivas estratégicas da empresa e seus parceiros, localizadas no interior de São Paulo, ampliando de forma significativa a cobertura de celular nas operações.

Atualmente, a Tereos conta com uma área de produção de cana de cerca de 300 mil hectares, entre áreas próprias e de parceiros.

O projeto, que irá beneficiar todas as áreas produtivas e unidades industriais da companhia, visa solucionar desafios de avanços tecnológicos no campo por conta da falta de conectividade em alguns pontos.

A iniciativa irá ampliar a comunicação, diminuir interferências no monitoramento no campo, melhorar o uso de aplicativos online para apontamentos e em tecnologias de piloto automático.

UISA: apostas em inovação

Com unidade produtora em Nova Olímpia (MT), a uisa (antiga Usinas Itamarati) empreende ciência de dados, roadmap de projetos inovadores, indústria 4.0, fluxo de automação com RPA e investimento em agricultura 4.0.

Além disso, relata ter construído comitê de tecnologia para sustentar todos os processos, que resultaram em outras inovações,como blockchain e rastreabilidade.

No mais, a companhia aposta no uso de inteligência artificial (IA), tokens, projetos com carbono e sustentabilidade.

Diante disso, a uisa está listada no anuário das 150 mais inovadoras do país.

COMO O PROFISSIONAL DEVE SE PREPARAR, SEGUNDO MARCOS FAVA NEVES

Que as novas tecnologias estão à disposição do ecossistema do setor sucroenergético, isso todo mundo sabe. E logo logo, com 100% da conectividade via 4G ou 5G no campo, a oferta de novidades tecnológicas só crescerá. Mas e os profissionais de companhias, fornecedores de cana e de bens e serviços?

Como eles devem se preparar para evitar o apagão profissional?

Para saber a respeito, entrevistamos Marcos Fava Neves, especialista em planejamento estratégico e agronegócio, professor na FEA-RP/USP, EAESP/FGV e na Harven Agribusiness School, de Ribeirão Preto (SP), da qual também é sócio.

As tecnologias de ponta chegaram para ficar também na gestão agrícola do setor sucroenergético, mas falta preparo profissional para lidar. O que fazer no curto e médio prazo?

Marcos Fava – Em primeiro lugar, é preciso ampliar com urgência o número de cursos técnicos. Isso para fazer o matching [adequar o profissional] da necessidade de conhecimento para a aplicação dessas novas tecnologias com a oferta de conhecimento.

Então, cursos técnicos organizados pelo setor privado, em conjunto com organizações de ensino, são absolutamente fundamentais.

Quais suas sugestões para fazer com que o colaborador fixo da empresa se atualize profissionalmente?

Marcos Fava – Trata-se de uma questão de conscientização interna. Ou seja: quanto esse profissional, melhorando em atualizações, tem mais chance de permanecer na empresa e ser premiado por isso.

A comunicação da importância da competitividade profissional é fundamental.

A formação profissional, mesmo para os já formados, é o caminho para lidar com a nova era tecnológica, que crescerá ainda mais assim que chegar a conectividade 5G?

Marcos Fava – Sem dúvida nenhuma. Eu sou professor titular na USP e acabei de vir de uma especialização em inovação aplicada no agro na Rotterdam School of Management.

A questão de estudar está no dia a dia do cidadão. Ele nunca termina de estudar.

Delcy Mac Cruz, jornalista especialista no mercado dos setores sucroenergético, de petróleo, gás e energia elétrica. Fala também sobre etanol e açúcar. É produtor de conteúdo na plataforma “Energia Que Fala Com Você” e também na RX Brasil.

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